segunda-feira, 7 de setembro de 2009

..POTT e as revistas côr de rosa.....


Confesso,com alguma vergonha,que tambem folheio as revistas côr de rosa.
Na sala de espera do dentista é a minha leitura preferida.
No mês passado enquanto esperava pela minha vez abri uma dessas revistas e fiquei a saber que a dourada Mita Bettencourt brinca de libelinha no casamento de Virgínia Koschavsky e André Gallupe o padrinho Nando Sphinx mostra as covinhas do rosto para a câmara.
Quem diabos é essa gente? Até os nomes parecem falsos. (será que alguém realmente se chama Nando Sphinx.) Mas quem é essa gente?
A mulher que assina a coluna social parecia crente que toda a gente sabe quem é essa gente dourada que brinca de libelinha.
E o que é brincar de libelimha? E o que será que Mita Bettencourt faz na vida? Será que ela é neurocirurgiã? Uma neurocirurgiã dourada que brinca de libelinha no casamento de Virgínia Koschavsky e André Gallup? Não fica bem, fica? Vocês deixariam que alguém assim fosse operar o vosso cérebro?

Mas continuemos: Carina Zaratin abre um sorriso. Ana van Steen ri de tudo (outra que eu espero que não seja neurocirurgiã).
Patrícia Carta ouve Chris Saddi. Pedro Piva troca idéias com Lucília Amorim (quais? Fiquei curioso). Bom, alguns sobrenomes são famosos: famílias que enriqueceram a vender rolhas. Mas os primeiros nomes não são. Fico a imaginar que foram simplesmente inventados pela colunista social, que não tinha tempo, nem paciência, para ir de facto ao casamento de Virgínia Koschavsky e André Gallup. Na verdade, espero que essa gente tenha sido inventada. Graças a Deus, nunca conheci ninguém que se chamasse Nando Sphinx; não acredito que exista ninguém chamado Nando Sphinx. E se alguém apertar a minha mão e disser, “Olá, sou Nando Sphinx”, dou-lhe um murro, pra ele deixar de ser anormal. Quatro anos de tropa devem ter servido para alguma coisa.
Brinca de libélinha. Mostra as covinhas para a câmara. Alguém diria isso de, sei lá, Nietszche? «O filósofo e bonitão Friedrich Nietszche mostra as covinhas para a câmara no casamento da dourada Giorgia Flemming com a prateada Carina Zaratin? A translúcida Hannah Arendt brinca de panda com o fofo da hora, José Carlos Pereira, no Bar do TWINS do fantástico Batata , sob
o olhar benévolo da astrologa Maya? Não, é claro que não. Acabaria com a reputação de qualquer um. O que me leva à próxima, à mais importante das perguntas:

O que faz essa gente? Que livros escreveram? Que filosofia desenvolveram? São médicos, são astrônomos,bruxos,cientistas de algum tipo? Que reputação têm? Qual o talento deles? Por quê, exatamente, se supõe que eu deveria conhecer os seus nomes?
Oh, eu pergunto, mas eu sei, é claro (e vocês também sabem) que eles não fizeram nada e que não têm talento algum. Se um Anjo Furioso, na noite do casamento de Virgínia Koschevsky e André Gallup, recebesse de Deus a ordem, “Vai aquele salão, e chegando ali separa todos aqueles que não tiverem dentro de si mesmos nenhum talento, e em Meu Nome mata-os sem piedade”,
ninguém sobraria vivo no salão. Ou talvez só a Helena Sacadura Cabral, tremendo num canto, meio escondida nas cortinas e coberta do sangue dos outros, perguntando a si mesma: “O que diabo eu vim fazer aqui?”.

Sei o que vão dizer. Que é inveja, pura inveja. Que no fundo eu bem que queria que dissessem que eu brinquei de libélinha no casamento de dois badamecos. Não, não, três vezes não. Aparecer numa coluna social é tão embaraçoso quanto ser descoberto (de bermudas com suspensórios, olhar ingênuo e sorriso estúpido) numa foto antiga da Mocidade Portuguesa.

E há mesmo, na verdade, uma conexão entre as pessoas das colunas sociais e as pessoas que aderiram ao nazismo na década de trinta. São pessoas que fazem o que for preciso para estar bem, ficar amigo de quem importa e fazer parte da gente bonita.
Alguém tem alguma dificuldade em imaginar a Lili Caneças, numa foto de 1942, “recebendo de braços abertos- que loucura!- os bravos e lindos soldadinhos prontos para a linha da frente, na festa que sacudiu o mês passado o Ritz”?

E depois dizem que essa história de elevador de serviço e elevador social é horrível, racista etc. Se é verdade que é uma invenção portuguesa, é uma das poucas boas invenções da nossa terra. No prédio do meu amigo Jonas, por exemplo, a dourada Mita Bettencourt só subiria pelo elevador de serviço. O meu amigo reserva o elevador social para as visitas que têm uma saudável cor não-dourada e não brincam de libelinha em cima do tapete.
Essa gente é a nossa elite? Outros países tem Robert de Montesquiou, Beau Brummel e o Barão Von Thyssen, e nós temos essa gente:o mariconço Castelo Branco,a pirosa Maya, a Caneças,a costureirinha Fátima Lopes mais o seu marido azeiteiro e por aí
fora..?
Não, é claro que não - só posso pensar que a nossa elite é secreta: trinta ou quarenta pessoas de gosto e inteligência, vivendo discretamente aqui e ali. Que a nossa elite somos eu e vocês. Escondemo-nos atrás da porta e ficamos a observar os criados fingindo que são os donos da casa.
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13 comentários:

  1. lolololol
    essas revistas e eu não nos damos mt bem... tb só as folheio, como tu, nas salas de espera de algum 'espaço onde se vende a saúde', que pelos vistos parece que essa é uma das formas de nos 'tratarem' da saúde... ou pôr malucos...

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  2. Bom dia garoto!
    Não vou comentar sobre o que vc escreveu aqui, mas deixar-lhe uma frase de Saint Exupery:
    "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".
    Vc sabe o que significa "cativar"????rsrs
    Beijos..Emilinha

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  3. O tempo que passamos no "trono", não seria o mesmo. Que mais podemos querer num momento privado que a companhia despreocupada da Princesa Letizia, da Floribela ou do José Castelo Branco na nossa casa-de-banho.

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  4. Se não fossem eses poços de cultura que são as revistas "Cor de Rosa"saberíamos que existem pessoas com os nomes (ou nome artístico) mais incríveis como a Bibá, Kika, Mituxa, Carlucha, etc, etc, etc ??????????

    bjinhos

    NoKitas

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  5. Depois de ler isto, fiquei com a sensação de que ando a perder muitos momentos bons... é que passam-se meses que eu não olho para uma revista dessas!

    Vou ali comprar uma e ja venho!

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  6. Sem a imprensa côr de rosa os consultórios médicos não seriam os mesmos. Não teríamos distracção para o facto de
    dentro de minutos termos uma broca num dente ou irmos ouvir uma bronca do médico ao nosso colesterol e às gorduras .
    As grandes esperas tornar-se-iam insuportáveis e as recepcionistas correriam um maior risco de ser agredidas. As notícias de que a Elsa Raposo fez mais uma tatuagem, de que existe uma abóbora com 2 metros ou que a Bibá Pita foi pela primeira vez à praia este ano, não nos acalmariam a espera.

    bjos

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  7. Caso não existissem as "CARAS" não ficariamos a entender o que fazem na vida a maior parte dessas gajas e rabetas que aparecem nas fotografias das festas, e o que fazem de especial para serem convidados para as festas e terem de borla, aquilo que nós "o povo" temos que pagar, tal como férias nas caraíbas, telémoveis, relógios, jóias e bilhetes de cinema.

    Um abraço do

    TOUFUDIDO

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  8. Gosto do que escreves ( na maioria das vezes) mas desta vez ADOREI porque tiveste a coragem de escarrapachar aqui os "Vips" que este país tem... Quantas vezes não faço a mesma pergunta ao folhear as ditas cujas revista "rosa": Quem é esta gente? Porque estão aqui? O que fazem?São pagos para mostrarem as casas, a família, as férias, o que comem e o que vestem. Aparecem nas televisões a dizerem baboseiras e conseguem sempre, para si e para toda a prole, empregos chorudos.
    Concordo contigo: os verdadeiros VIPS ( que os há) não mostram a casa e passam despercebidos nos lugares mais vulgares, onde se juntam os normais. Um beijo Graça

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  9. Leio sempre a Maria.Sou sua Fã incondicional.
    Vou sempre directa às páginas do "consultório". Rio-me sempre. Como aquela do tipo que queria saber onde comprar um cinto de castidade para a namorada... Lindo!
    Olha que isto é verdade

    BEijossssssssss

    7 de Setembro de 2009 21:58

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  10. Revistas cor de rosa....................
    Na nossa sociedade, onde o culto da perfeição a todos os níveis, se apregoa como o patamar a atingir, o que fazem os imperfeitos, ou melhor, o que fazemos todos nós?

    Boa noite Pott

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  11. Olá Pot!
    Este tema tem oportunidade mas irrita.
    Este tipo de coisas acabam muitas vezes por potenciar personalidades frágeis e débeis, pelo simples facto de não se atingir esse ambicionado patamar.
    E incomoda-me ainda o facto, de ser uma realidade de difícil alteração, que reflecte problemáticas consideráveis na estruturação de personalidades, que, não tendo onde se agarrar, se agarram a vidas alheias. Vidas com uma perfeição fictícia, mas bela, que lhes dá um prazer momentâneo, alternado com uma frustração profunda, pelo facto de não pertencerem ao grupo da perfeição.
    Beijo

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  12. São enciclopédias de informação social inesgotável, essas tais revistas cor-de-rosa(ou douradas). E o teu texto daria pelo menos para dois ou três doutoramentos em sociologia!!
    Tens toda a razão, inclusive quando dizes que as pessoas realmente importantes, realmente ricas, realmente poderosas são discretas e não fazem alarde do que são...
    (só não concordo quando dizes que o teu gato Jonas é estúpido. Impossível: não há gatos estúpdos!!)

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  13. Caro Pott,
    O que seria de muitas "cabeças" sem essas revistas !? Um desastre por certo, não !?
    Eu que tenho também formação em Filosofia, divirto-me com as mesmas, aquelas figurinhas tristes, mas também têm direito à vida ! E lá vão vivendo na ilusão que brilham neste nosso Portugal e, que são um exemplo, talvez da mediocridade...
    O meu obrigada pelo comentário num dos meus espaços, gostei.

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