A todos que se quiserem tornar na super Classe Média portuguesa e pirosa, um óptimo ambiente de observação é o trânsito das nossas cidades. Ali podemos estudar, por imersão total e com riqueza de detalhes, os valores deste peculiar grupo social.
O piroso médio-classista encara o trânsito como se fosse uma grande batalha em defesa do seu direito individual prioritário de ir e vir, o que significa que cada indivíduo da Classe, no trânsito, tem prioridade um sobre o outro e vice-versa (numa estranha equação ainda não resolvida pela matemática). E todos têm prioridade sobre os peões (este ponto já é bem mais fácil de entender).
Para encarar o trânsito, cada cidadão da Classe deve estar equipado com o seu carro. Se uma moradia médio-classista possui, por exemplo, 4 habitantes em idade para serem condutores, o ideal é que ali haja 4 carros. O carro é uma importante propriedade desses cidadãos, e o seu interior é o seu mundo particular, uma extensão da sua casa sobre rodas. Por isso, o carro para este público precisa ser equipado com "jantes especiais", equipamento de som potente, ar-condicionado e lugar para no mínimo cinco passageiros (para levar objetos e peças de vestuário, uma vez que raramente o carro do médio-classista transita com mais de uma pessoa além do condutor). Tudo isso garante que o realmente importante (o mundo particular do condutor) esteja muito agradável, a fim de evitar o contacto com o mundo exterior, totalmente desprezível. Para este, há um mecanismo de comunicação denominado buzina.
Os aprendizes de médio-classistas, precisam de aprender que, para ser da Classe, é necessário revoltar-se com as actuais condições do trânsito. Assim, no seu papel de cidadão politizado e pagador de impostos, deve exigir das autoridades que abram espaço na cidade para mais carros. Que desapropriem,deitem a cidade abaixo, mas garantam a duplicação das vias até resolver o problema (o que provavelmente será quando a cidade for um grande plano de asfalto). Fiquem revoltados também pelo facto do Governo se preocupar mais em, violentamente, coibir o vosso direito sagrado de ingerir álcool quando conduzem, do que abrir mais acessos para os vossos carros poderem transitar mais rápidamente.
Também é preciso aprender a ter modos neste ambiente. Se você se quiser parecer realmente com alguém da Classe, ande sempre na frente dos outros. Se alguém fizer sinal de que quer mudar de faixa e ficar à sua frente, mesmo que você esteja ainda longe, acelere loucamente para passar à frente antes que ele realize a manobra. Logo, sabendo que todos agirão assim, dispense o uso dos piscas (pode até pedir ao mecânico para desactivar os seus). Você não tem que dar satisfações sobre para que lado vai virar ou se quer ou não mudar de faixa.
Portanto, aspirante, o primeiríssimo passo para entrar na Classe é abandonar o transporte colectivo, o metro e até mesmo a bicicleta (esta somente pode ser usada para lazer, e mesmo assim, deve ser transportada de carro até o local do uso). No transporte colectivo você está num espaço público, sujeito a ficar perto de pobres e nada ali é "só seu". É muito melhor que transite dentro da sua máquina de vidro e metal, "privatizando" (aprenda a usar esta palavra) cerca de 10m² do espaço público, com uma viatura com mais de 1000kg que queimará gasolina para transportar uma pessoa de 70kg, a fim de garantir o seu merecido bem-estar até ao seu destino. Vocês tem direito, vocês são da Super Classe Média Pirosa.
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Vejam este exemplo o espaço ocupado por 54 pessoas, sendo 1) cada uma no seu carro; 2) todas num autocarro; 3) cada uma numa bicicleta.
Para encarar o trânsito, cada cidadão da Classe deve estar equipado com o seu carro. Se uma moradia médio-classista possui, por exemplo, 4 habitantes em idade para serem condutores, o ideal é que ali haja 4 carros. O carro é uma importante propriedade desses cidadãos, e o seu interior é o seu mundo particular, uma extensão da sua casa sobre rodas. Por isso, o carro para este público precisa ser equipado com "jantes especiais", equipamento de som potente, ar-condicionado e lugar para no mínimo cinco passageiros (para levar objetos e peças de vestuário, uma vez que raramente o carro do médio-classista transita com mais de uma pessoa além do condutor). Tudo isso garante que o realmente importante (o mundo particular do condutor) esteja muito agradável, a fim de evitar o contacto com o mundo exterior, totalmente desprezível. Para este, há um mecanismo de comunicação denominado buzina.
Os aprendizes de médio-classistas, precisam de aprender que, para ser da Classe, é necessário revoltar-se com as actuais condições do trânsito. Assim, no seu papel de cidadão politizado e pagador de impostos, deve exigir das autoridades que abram espaço na cidade para mais carros. Que desapropriem,deitem a cidade abaixo, mas garantam a duplicação das vias até resolver o problema (o que provavelmente será quando a cidade for um grande plano de asfalto). Fiquem revoltados também pelo facto do Governo se preocupar mais em, violentamente, coibir o vosso direito sagrado de ingerir álcool quando conduzem, do que abrir mais acessos para os vossos carros poderem transitar mais rápidamente.
Também é preciso aprender a ter modos neste ambiente. Se você se quiser parecer realmente com alguém da Classe, ande sempre na frente dos outros. Se alguém fizer sinal de que quer mudar de faixa e ficar à sua frente, mesmo que você esteja ainda longe, acelere loucamente para passar à frente antes que ele realize a manobra. Logo, sabendo que todos agirão assim, dispense o uso dos piscas (pode até pedir ao mecânico para desactivar os seus). Você não tem que dar satisfações sobre para que lado vai virar ou se quer ou não mudar de faixa.
Portanto, aspirante, o primeiríssimo passo para entrar na Classe é abandonar o transporte colectivo, o metro e até mesmo a bicicleta (esta somente pode ser usada para lazer, e mesmo assim, deve ser transportada de carro até o local do uso). No transporte colectivo você está num espaço público, sujeito a ficar perto de pobres e nada ali é "só seu". É muito melhor que transite dentro da sua máquina de vidro e metal, "privatizando" (aprenda a usar esta palavra) cerca de 10m² do espaço público, com uma viatura com mais de 1000kg que queimará gasolina para transportar uma pessoa de 70kg, a fim de garantir o seu merecido bem-estar até ao seu destino. Vocês tem direito, vocês são da Super Classe Média Pirosa.
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Vejam este exemplo o espaço ocupado por 54 pessoas, sendo 1) cada uma no seu carro; 2) todas num autocarro; 3) cada uma numa bicicleta.
Acrescentando: Quando um tipo desses da "super" classe média vai a um país civilizado fica maravilhado com o "respeito" que têm as pessoas no trânsito por lá.
ResponderEliminarAqui em Portugal, considera qualquer lei que o tente "civilizár" como um absurdo, detona tudo e diz que isto é a "Indústira da Multa"!
Acredito ser coincidência esse post ter saído bem na Semana Nacional de Trânsito aqui no meu país,no Brasil. Em alusão à efeméride vi em vários blogs, revistas e jornais algumas campanhas publicitárias que poderiam ajudar a mudar um pouquinho essa mentalidade. Mas são todas campanhas estrangeiras, pois não se faz campanha educativa séria sobre trânsito por aqui.
ResponderEliminarTou vendo que por aí tá igual.
Beijo pra vc.
Lendo o seu texto tenho a sensação que vc escreve sobre o trânsito do meu País.
ResponderEliminarSempre achei, que na Europa, pela educação e conscientização do povo fosse diferente, mas vejo que não é bem assim!!!
Escuta, estou escrevendo um pouco sobre a Bahia, e apareça, pois sei que vcc vai gostar.
Lindo dia menino!!
Mais um texto muito bom, parabens!
ResponderEliminarEm primeiro lugar, para entrar no mundo da "SUPER" Classe Media PIROSA, tens que ter um carro. Se nao tens carro, nao és da "SCMP". Carro = Status.
Nao importa, por exemplo, se vais pagar a tua Station Mercedes Benz em 334123 vezes (ah sim, um carro grande/utilitario ajuda a aumentar o status).
Se alguem termina a faculdade, trabalha, mas nao tem carro... meus amigos, nao é da "SCMP". Logo perguntam: "então, estudou tanto e nem tem um carro, não saiu da cêpa torta?"
Por isso, quem quer ser da "S" Classe Media PIROSA, a sério, compre um carro custe o que custar! E siga os conselhos deste post! rsr
Gostei Pot.
Pois é!
ResponderEliminarTudo igual acima ou abaixo do Equador.
Além dos seres chamados motoristas se tranformarem em irracionais (claro que não todos, graças à consciência de alguns) há ainda a oportunidade perdida de aproveitar o caminho.
Veja só, fiquei sem carro por alguns anos, por motivos alheios a minha vontade.
Um certo dia, conversando com uma amiga, ela me disse que precisava de certo produto e que não achava.
Eu, como frequentadora de onibus coletivo e lotações, imediatamentemente disse:
- Como assim não acha? Voce tem esse produto numa loja bem perto de onde vc faz a feira toda a semana!
Ao que ela respondeu:
- Loja? Que loja?
Quando expliquei melhor ela ficou pensando em como nunca tinha visto aquela loja sendo que estacionava o carro quase na porta da dita cuja.
Eu disse que essa era uma virtude de se andar de coletivo. Vou olhando tudo, conhecendo e reconhecendo lugares.
Esse é um pequeno exemplo da solidão que o ser humano cria para si, além de virar um competidor de espaço quando está ao volante.
Ainda hoje, mesmo com o carrinho na garagem, muitas vezes vou para o consultório de lotação.
Tem o perigo da gripe suina e de outras contaminações mais, mas ..... esta vida já é um risco por si só.
Então.............
Agora com licença, tenho que ir trabalhar, senão perco a lotação e os clientes não podem esperar........
Adeus.........
Bom fim de semana a todos
Beijinhos Pott
Viva a Super Classe Média e os padroes mais doentios e pseudo-felizes de vida!
ResponderEliminarVamos embora todos beber uma cerveja!
Vamos esquecer essa confusão toda!
Até porque o "inferno é sempre os outros", acho que o Sartre ironizou a classe média com essa frase..
beijos!
25 de Setembro de 2009 14:04
Vou escandalizar todo o mundo: não gosto de transportes públicos!! andei alguna anos nele e achei que foram anos de massacre. Na altura, levantava-me ás 5horas da manhã para apanhar 4 autocasrros diferentes (ás vezes cinco, quando me atrasava...) para chegar a tem po e horas à Escola, distante da minha casa mais de 20Km. Saía de madrugada e entrava em casa, muito depois das 8h da noite!!! Penosa e longa via sacra. Não matara, não roubara, porque é que estava a ser castigada daquela maneira?!
ResponderEliminarDepois, constatei de perto, com a má educação no transporte público: todos têm direito ao seu lugar porque pagaram. Mas assisti a cenas deploráveis: canalha mal educada, com um palavreado de caserna, rindo-se de quem não tinha conseguido lugar, mulheres gávidas, idosos, pessoas com dificuldades físicas etc.
Penso que ter um carro utilitário, hoje em dia, é uma necessidade!
Agora, se me disseres, que há gente que para subir na tal classe "pirosa", empenha tudo o que tem e o que não tem para um carro de marca a condizer (???) com o seu hipotético estatuto social, isso, estou de acordo.
Se o nosso país, cria-se condições eu até gostava de andar de bicicleta...
Ando muito a pé, que só faz bem á saúde e que me porprociona um contaco mais directo com a natureza. Escrevi demais...vou tomar um café1.Um beijo Graça
O texto é óptimo! Parabéns! Traduz muito bem a relação do automóvel e a classe média(a que chamas SCMP) portugo-pirosa.
ResponderEliminarBeijo
Excelente esse texto! E, infelizmente, tragicômico. Reflete exatamente o momento que estamos a passar neste Pais de opereta, onde milhões se estão a investir na duplicação de auto estradas,em projectos de comboios de alta velocidade e aeroportos nada sobrando para aumentar o alcance do metrô ou melhorar os outros meios coletivos de transporte.
ResponderEliminarRidículo?! mas quem é que hoje passa sem carro?
ResponderEliminarO que é certo é que é o meio de transporte obrigatório. Sem ele não sairíamos de casa.
Autocarro e bicicleta? só para passear...
Bom fim de semana sem carro!
Esse texto ficou uma merda e o blog é um amontoado de graça-sem-graça!
ResponderEliminarOnde está a crítica aos "classe alta"? Está certo que muitos parolos se acham o "rei do Chouriço", mas o que falta a todas as classes sociais do país é EDUCAÇÃO e CULTURA, e menos pseudo-espertos.
Boa noite às Madamas.
Toufudido
Também é digno de nota para futuros posts a reverência que médio classistas fazem para "empresários". Diga que é "empresário" e todo classista te tratará muito bem, quase com reverência, nem que a empresa seja o contrato social e um paletó na cadeira, existe a mística da termo.
ResponderEliminarUma beijoca