sábado, 12 de setembro de 2009

..as nuvens de POTT....


Hoje está um belo dia de sol...mas prometeram muitas nuvens...
Perante a promessa não cumprida, resolvi falar sobre as nuvens...

Nos velhos sinos liam-se expressões deste género: «funera plango, fulgura frango,sabbata plango,excito lentos,dissipo ventos, placo cruentos» Noutros casos mais resumidos: «Vivos voco,mortuos plango,fulgura frango»

O que significa:
«Choro os mortos,disperso as tormentas,anuncio as solenidades; estimulo os vagarosos,dissipo os ventos,aplaco os violentos.

E, na fórmula mais breve :
«convoco os vivos,choro os mortos,amaino os temporais.» Amaino temporais,dissipo ventos! Acreditava-se outrora que,tocando os sinos, as ondas sonoras dispersariam as tempestades. Ficou então como norma,não tocar os sinos durante os temporais e quando houvesse granizos.Noutros termos,..«quem tiver nuvens sobre as suas vinhas,guarde-as e não as empurre para a povoação vizinha. Hoje acontece a mesma coisa,com fins diferentes: «Se sofres de estiagem, espera pacientemente a chuva e não furtes as nuvens alheias. Esta nuvem é minha». A cidade de Nova York preocupada com uma seca intensa,confiou a solução do problema aos cientistas; e estes responderam que nada é mais fácil: basta deitar nas nuvens,que não se decidam a rebentar,umas pitads de gelo seco e de iodo(desculpem a forma simples com que me exprimo).As nuvens coverter-se-ão em chuva benfazeja. Mas depois de se pronunciarem os homens de ciência,
intervieram os juristas:
-Um momento! A quem pertencem as nuvens?

As nuvens são eminentemente errantes ,instáveis ,inconstantes, femininas.Como se pode regulamentar-lhes os caprichos,a fantasia,a vagabundagem? Elas pertencem a todos que se cansaram de pousar os olhos na terra.Apossar-se de uma nuvem, para a submeter a um processo fisico-quimico, a um regime violento de gelo e iodo, significa furta-la àqueles sobre cujas terras ela passaria dentro de alguns minutos,ao sabor da extravagância dos ventos. Como é possivel dizer legitimamente:«Aquela nuvem é minha»?
Assistiremos à instituição dos tribunais das nuvens - como ha em certos paises os tribunais das aguas - para julgar os ladrões mais líricos:os ladrões de nuvens.
É ,sem dúvida, tão poético roubar uma nuvem como furtar um raio de luar. O poeta Sam Benelli,morto há algumas decadas,já não lançará do alto o seu célebre desafio: «Acorrenta uma nuvem se puderes!» Eu nunca imaginei que,um dia, as nuvens pudessem converter-se em objecto de comércio.Sempre as vi como estátuas colossais em movimento,moldadas pelo polegar de Miguel Angelelo para preencher os longos dias da sua eternidade; ou rarefeitas e atenuadas como a transcrição musical da «Primavera» de Grieg.Simbolizam para mim,a mudança, a transformação da beleza inacessível.Eram figuras esguias e aureoladas de virgens,dragões horrendos,bruxas cavalgando vassouras,bigodes temiveis de guardas postados a dirigir o tráfego das estrelas,funcionárias vestidas de branco,distribuindo bilhetes de transito debaixo do arco-íris. Mas então que mais há para vender?A água,a «irmã água» de S.Francisco,a «coisa mais bela do mundo»,na opinião de Pindaro, já foi engarrafada,fechada com uma capsula,receitada pelos médicos,onerada com um preço e com taxas governamentais. Se furtarmos ondas hertesianas,isto é ,uma canção, por meio de um rádio não controlado pelo fisco,expomo-nos a um processo..não sabiam?
Ainda não se descobriu um truque para vender o Sol; inventaram-se porém os paineis solares que nos dão um pouco de aquém e de além do espectro solar.
Como isto é triste!
Um dia, esse belo temporal,que me agita o papel enquanto escrevo,e me descarrega os nervos,deixará de ser meu ,para pertencer a quem der mais por ele... Resta uma única esperança: ajustar contas com a abóbada celeste e com os fenómenos intermediários o que continuará a ser tarefa dificil,como na época da invenção do para-raios. Franklin,aludindo ao seu invento recente, escrevia a Félix Nogaret : «não obstante as minhas experiencias sobre electricidade, o raio continua a cair-nos no nariz e na barba.»
A uma senhora que passa férias neste fim de verão, e que desolada se pergunta porque não se usa agua mineral para fazer frente à falta de chuva,tenho impetos de lhe responder como o fidalgo que,vendo a amada contemplar embevecida um estrela,advertiu:
- não olhe,para não desejar.É coisa que não lhe posso oferecer...

Eu nunca poderei oferecer uma nuvem; mesmo que elas venham a ser vendidas em saldo...
Não posso dissociar tudo isto à lembrança do que li sobre um diálogo travado no tempo em que os poetas eram tomados mais a sério,entre um poeta arabe e uma florista:

-Que vendes? -Rosas
-Por que vendes rosas?
-Para ter dinheiro.
-E,com dinheiro,que poderás comprar que seja mais belo que as rosas?
Hoje, o poeta arabe perguntaria nostalgicamenté: -Que há de mais belo do que as nuvens?

12 comentários:

  1. Ouvirás um dia alguem cantar : "Uma é minha, outra é tua, outra é de quem apanhar.."
    A pergunta impõe-se : que mais haverá para vender? Será que ainda se pode sonhar,ou sonhos tambem estão á venda?
    Adorei esta tua dissertação onde entra o poético e a realidade, talvez em conflito...
    Mas o que´é que não está hoje em conflito?
    Até eu estou em conflito ou estão comigo por causa de um comentário num blog por aí e o senhor veio com sete pedras na mão para cima de mim... Em meio ano de andanças por aqui, nunca tal me tinha acontecido...Olha foi uma nunvem negra que por aqui passou..mas que me estragou o dia é um facto. Mas adiante...que atrás vem gente!! Um bom fds para ti e um beijo Graça

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  2. As nuvens são as testemunhas sobreviventes das épocas que não vivi e das quais sinto a falta.
    Bela análise.

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  3. "As nuvens mudam sempre de posição,mas são sempre nuvens no céu.
    Assim devemos ser todo dia, mutantes, porém, leais com o que pensamos e sonhamos.
    Lembre-se, tudo se desmancha no ar,menos os pensamentos."
    Lindo Fim de Semana!

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  4. Muito bom!
    Não sei que cara tinha Ulisses;mas as nuvens que deslizam defronta da minha janela são as mesmas que ele encontrou no Mediterraneo.A Atlantida desapareceu;entretanto as nuvens que deram sombra
    aos seus filósofos são as mesmas que vemos sobre os arranha-céus de Manhattan.

    Um beijo

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  5. Sempre fui uma admiradora das nuvens, e acho que encontrei meu lugar! Sem falar que minha cabeça sempre se passeia por lá...

    Beijos

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  6. Desculpa a poesia...mas como falas-te em nuvens....


    Lembro-me das nuvens em várias ocasiões da minha vida, e sempre estiveram lá, naquele lugar alto para os olhos de criança. Lindas nuvens que pareciam travesseiros, almofadas felpudas, e perguntei para a minha mãe, na minha curiosidade de miuda se aquelas nuvens seriam algodão-doce. Ela, paciente diante de perguntas "complexas" como essa, disse que sim. E as nuvens continuaram lá em cima, eternas, sendo levadas pelo vento, independentemente do que eu fazia cá em baixo, na terra. Uma vez ou outra estava a admirar as nuvens em ocasiões especiais, principalmente quando essas ocasiões me remetiam o olhar para o céu. E essas nuvens mostravam-se em toda a sua beleza, seja num belo pôr-do-sol, seja numa noite meio chuvosa ou não, mas elas estavam lá, até mesmo, por vezes, tentanto esconder a belza da lua que, por ironia, se tornava mais bela com as nuvens tentando escondê-la. E as nuvens sempre me emocionaram, sempre me inspiraram, sempre agarravam o meu olhar e o transportava para longe... Houve vezes em que as nuvens mostravam, como setas a perderem-se no horizonte, onde estava o amado, onde o amado passeava, onde o amado suspirava. Parece que as nuvens traziam estes suspiros...

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  7. Olá Pott!
    Eu gostei muito do que escreveste,até entendi..
    Mas quero dizer-te que quando olho para as nuvens
    só vejo mamas.
    Será que sou um TS?

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  8. Oi Pott

    Vc é nuvem passageira
    Que com o vento se vai
    Vc é como um cristal bonito
    Que se quebra quando cai

    Um beijo pra vc querido....

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  9. Já pensou em tirar uma soneca em cima de uma nuvem bem fofinha, flutuando suavemente no ar?
    - NOSSA ! Não acha REALMENTE INTERESSANTE! É .. É UMA BOA IDÉIA ! MAIS TUDO VAI DE DETALHES. AGUENTARIA UM CASAL? ADORo a ideia! SÓ VAI TER UM PROBLEMA ! LEVANTAR PRA TRABALHAR! RSss'

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  10. andar nas nuvens...pode ser breve mas único!

    ABRAÇO para ti POTT!

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  11. A intensidade das inquietudes ou circunstâncias pouco claras está relacionada ao aspecto das nuvens. Quanto mais escuras e revoltas, pior está o nosso panorama. Brancas e leves em céu claro, elas anunciam aborrecimentos superficiais e passageiros. Cinza e cobrindo todo o céu, indicam complicações sérias de saúde e negócios. Enfim, negras e de aspecto tempestuoso, serão precursor de discórdias, mas que embora, violentas, poderão ser apenas passageiras.

    Portanto não tens que te preocupar

    Beijo
    Mary

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  12. Por favor não me filtrem as nuvens!
    Deixem-me, agora, só com a chuva que virá!
    Como uma amante febril percorrendo de beijos
    o ermo da sua loucura,como o quente da água pura
    que escorre do meu corpo,vaporizando liberdade.

    Ubeijinho

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