quarta-feira, 30 de setembro de 2009

POTT e o problema dos canivetes suiços...


Acreditem que não estou a brincar...é o que eu penso e sinto....
Proibiram os canivetes nas prisões!
Presumo que seja chato estar preso, mas agora não ter um Canivete Suíço "swiss army knife" Victorinox, para cuidar da higiene das unhas e descascar uma maçã ainda é mais chato. Depois um tipo pode-se chatear com outro, ou mesmo com um guarda prisional porque não lhe deram a dose de metadona a tempo e horas, porque não gosta da marca da seringa que lhe deram para injectar a sua droga diária, ou porque lhe serviram o pequeno almoço sem crepes e doce de manga com ananás ou o almoço (ou jantar) não era de marisco com lagosta, ou o caviar não era beluga, pode ficar chateado devido a ter estado todo o dia sem fazer nada e qualquer motivo é bom para esfaquear um colega ou um guarda e fazer uma festa brava com sangue. Para cúmulo, como está preso, e se tem o “azar” de matar alguém não pode ficar em liberdade com Termo de Identidade e Residência. Agora que se verificaram ataques com os tais canivetes que se vendiam a 5 euros cada, entre reclusos, ameaçam os presos que os compraram e não os devolverem com punições. Vai ser ver todos a chorar, porque ninguém vai querer desfazer-se de um brinquedo deste tipo que tanta utilidade pode ter dentro de uma prisão. Mas eu sugiro uma actividade que pode ajudar a mitigar o stress provocado por esta perda e mesmo evitar o surgimento de traumas por tão vil separação de um objecto pelo qual deviam nutrir muita estima e amor. Sugiro que se criem hortas onde todo o recluso pode cultivar as suas ervinhas de fumar, pois algumas tem propriedades medicinais as (chamadas drogas leves) que acalmam os nervos e fazem menos mal que dar seringadas nas veias que só criam arteriosclerose a longo prazo.

Para o tempo livre que os reclusos tem, e visto que já não tem outros meios para limpar as unhas, que era uma das melhores actividades de preenchimento dos seus tempos livres, sugiro ainda que se crie um programa parecido com o das Novas Oportunidades em que todos os reclusos teriam um computador e cursos de reconhecimento dos seus conhecimentos, o chamado RVC (Reconhecimento e Validação de Conhecimentos), onde podiam ver as suas capacidades e conhecimentos práticos de gatunagem, maldade e violência, burla entre outras actividades, reconhecidas com a equivalência ao 9º ano e até o 12º ano. Para aqueles que já fossem reincidentes e depois que se destacassem com os melhores “resultados”, sugeria a criação de um curso superior, estilo os da universidade independente, onde iriam aprender como fazer crimes de colarinho branco e onde adquirissem os conhecimentos necessários para que eles pudessem ensinar, por exemplo as suas mães a comprar a pronto andares ou vivendas de alto valor, com um rendimento mensal inferior ao nosso salário mínimo. Deve-se fomentar por isso a reinserção do recluso no seu núcleo familiar afim de ser reconhecido e querido no seio das suas famílias (por exemplo pelo tio, primos, irmão, mãe e pai).

E mais, se notassem nessa pessoa recuperada do crime, capacidades de liderança, saber e sabedoria acima da média, devia-se pôr esse cidadão a governar Portugal, e não sejam preconceituosos por virem a ter um ex-criminoso no governo, porque em Portugal como poucos governantes são investigados por crimes de corrupção e tráfico de influências (e outros crimes) e menos ainda são os condenados, posso assegurar-vos que praticamente não existe essa criminalidade no nosso país. Podem até ficar mais seguros ainda, que esse ex-recluso, iria ficar rodeado de “boas companhias” no parlamento (quer estivesse no PS, PSD, CDS,BLOCO de ESQUERDA ou mesmo PCP) e por isso mesmo iria ser muito menor o risco desse ex-presidiário cair em tentação e voltar à vida do crime.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

POTT e as desconfianças de Cavaco.....


Antes de mais e em 1ª Mão, toda a verdade sobre as escutas ao presidente.
Quem descobriu a marosca foi o próprio Cavaco Silva após longa investigação.
Aqui se relata a ultima fase da investigação quando Cavaco é descoberto pelo conselho de ministros enquanto investigava sobre a conspiração.
Perante os factos Sócrates confessa que realmente procedia a escutas embora não houvesse nisso qualquer má intenção.
Tudo se manteve em segredo, até hoje, a pedido do próprio presidente.
Passemos então aos acontecimentos.

O Presidente da República, Cavaco Silva, foi surpreendido em plena reunião do Conselho de Ministros disfarçado de empregada de limpeza, cumprindo assim a promessa feita aquando do anúncio da decisão de esclarecer os portugueses sobre a história dos espiôes que frequentavam a sua residência .

O disfarce era perfeito ao ponto de nenhum dos presentes reconhecer a mais alta figura da hierarquia governativa nacional debaixo da bata florida, do lenço na cabeça e dos óculos de lentes grossas, fruto da paixão de longa data do presidente pelo teatro amador e que lhe deu um talento especial para se transfigurar completamente. A sua identidade só viria a ser descoberta quando Ana Jorge, Ministra da Saúde, se envolveu numa violenta disputa física com Maria de Lurdes Rodrigues, Ministra da Educação, motivada pelo facto de ambas quererem sentar-se ao lado do ministro das Obras Públicas, Mário Lino.
Visto que ninguém parecia interessado em sanar o diferendo e numa altura em que o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, já propunha apostas em dinheiro que reverteriam a favor dos cofres públicos, todos ficaram surpreendidos ao ouvir a mulher da limpeza parar por instantes de mudar a arrastadeira do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Mariano Gago,para “apelar à calma e à serenidade essenciais à boa governação num Estado de direito.” O ministro Augusto Santos Silva lançou-se sobre a funcionária, primeiro só por gozo mas depois para seguir a recomendação do primeiro-ministro e tentar arrancar-lhe o lenço e os óculos, revelando assim tratar-se de Cavaco Silva.

Ter-se-á seguido um momento embaraçoso em que Augusto Santos Silva pedia desculpas ao Chefe de Estado por lhe ter roubado um beijo na boca, enquanto que José Socrates entrava em estado catatónico, salivando e murmurando referências incompreensíveis a Mário Soares e Manuel Alegre, ao mesmo tempo que Ana Jorge e Maria de Lurdes Rodrigues faziam as pazes e se retiravam para uma arrecadação com o colega José Vieira da Silva. Cavaco acabaria por se retirar de forma apressada, deixando o aviso de que iria continuar atento.

Posteriormente, viria a saber-se que não foi o primeiro incidente do género desde a tomada de posse do governo de Socrates. Precisamente no dia da tomada de posse, o novo primeiro-ministro foi surpreendido no regresso a casa por uma visita inesperada da ex-mulher, propondo-lhe que reatassem o casamento. Socrates estranhou e resolveu fazer um teste, pedindo à sua antiga companheira para provar o seu afecto com práticas(que não vou referir) inconfessáveis, pedido a que esta acedeu prontamente. Depois do concluído o acto, o chefe do governo percebeu que não se tratava da sua verdadeira Ex, visto que esta sempre se mostrara contra tais práticas por considerar que davam cabo da maquilhagem e expulsando a impostora de casa, referindo-se a ela como “senhor presidente.”

José Vieira da Silva, ministro de Estado do governo, comentou a este respeito que “não se pode submeter um governo a este tipo de pressão” e garantiu ao Presidente e aos portugueses que o próximo executivo “não cometerá nenhum erro irreparável.”

domingo, 27 de setembro de 2009

...o Sonho de POTT...


A noite passada tive um sonho....
A coligação PSD/CDS-PP tinha ganho as eleições....
Finalmente estes partidos iam dar vida ao sonho não realizado no mandato abruptamente interrompido...

O Sonho rezava assim....

O governo português está a planear o envio de elementos destacados do jet-set nacional para o Iraque como mais um contributo para estabilizar a situação tensa que se faz sentir naquele país desde a invasão de tropas da coligação internacional e subsequente deposição de Saddam Hussein.

A ideia partiu do ministro da Defesa, Paulo Portas(devo dizer que nada tenho contra ele,pelo contrário), após sugestão de uma amiga íntima e possível amante (de acordo com um rumor posto a circular pelos serviços de relações públicas do ministério da Defesa como forma de atirar areia para os olhos do público em geral) Cinha Jardim, ela própria uma das personalidades de maior relevo na “alta sociedade” portuguesa e presença assídua em todas as festas onde haja música, comida de borla e um fotógrafo da revista Caras.

A este respeito, Paulo Portas considera que “já disse que não gosto de rapazinhos! Irra! Quantas vezes é preciso deixar que me fotografem a benzer-me para levarem isto a sério?” Depois de repetida a questão, o ministro afirmou que “com esta medida, o governo quer dar o exemplo à comunidade internacional e mostrar de forma absolutamente inequívoca que um país sem grandes meios como Portugal está empenhado a fundo na luta contra o terrorismo e não abdica de dar o contributo possível, mesmo que não seja solicitado.”

O envio de “colunáveis” portugueses será feito por fases e de acordo com as indicações do comando das operações no terreno. Numa primeira fase, personalidades como José Castelo Branco, Bibá Pitta, Lili Caneças ou o estilista João Rolo e o seu amigo especial, o cabeleireiro Eduardo Beauté, serão distribuídos pelas cidades iraquianas em que o clima de insegurança é mais alarmante. A sua missão será dinamizar a vida social iraquiana com festas, jantares de gala, torneios de golfe e ofertas de roupa de marca usada e, se possível, criar um jet-set iraquiano para que sejam os próprios iraquianos a assegurar a satisfação das suas necessidades sociais a curto/médio prazo.

Para além das suas funções oficiais, os elementos desta força expedicionária poderão levar a cabo, por sua própria iniciativa, outro tipo de operações com o objectivo de tornar o Iraque um sítio melhor para viver, ou seja, um sítio mais parecido com a Quinta da Marinha ou com Vilamoura nos meses de Julho e Agosto. Lili Caneças anunciou já que levará uma colecção de “tigresses” de Jean-Paul Gaultier para a cidade de Bassorá para, segundo a própria, “ver se os iraquianos se começam a vestir um bocadinho melhor que aqueles turbantes já passaram de moda na primavera de 1979 quando eu era uma rapariga de quinze anos.”

Quanto a José Castelo Branco, já se voluntariou para aplicar os seus conhecimentos de massagem "shiatsu"(penso que é assim que se diz,) adquiridos durante umas férias em Punta Cana no verão de 2001 junto dos militares da GNR anteriormente enviados para o Iraque como primeiro contributo português para a normalização da situação no país. “É o mínimo que posso fazer pela pátria,” afirma, acrescentando que “o máximo discutimos depois mas pode passar por um regresso do meu alter-ego travesti, a Tatiana Romanov, ao activo para uns shows privados.”

Para além desta iniciativa pioneira a nível mundial, fique a saber que o governo pretende promover intercâmbios entre a força da GNR e o corpo expedicionário do jet-set de forma a assegurar uma “saudável e desejada troca de experiência no terreno por boatos fúteis acerca das lipoaspirações de Tita Balsemão ou da impotência do filho mais novo de António Champalimaud.” Ao abrigo deste intercâmbio, Pimpinha Jardim, filha de Cinha e possível, ainda que pouco provável, enteada de Portas, assumirá o comando de um destacamento da GNR enquanto que o sargento Meireles será entregue aos cuidados de Bibá Pitta que se comprometerá em ensinar-lhe a comer com os talheres certos e a não arrotar em público ou coçar os testículos durante operações stop, coisas que, segundo Bibá, “os pobres fazem mas só porque não tiveram uma educação como deve ser e nasceram num palheiro ou assim.”

Quanto ao envio da própria Cinha Jardim para o Iraque, o ministro da Defesa rejeita essa possibilidade, pelo menos durante os próximos tempos. “Quero passar o máximo de tempo possível com ela para nos conhecermos melhor porque a Cinha é uma mulher muito especial e tem aquele cabelo louro magnífico que até faz lembrar uma peruca que eu costumava usar de vez em quando.”

...depois acordei...se calhar vamos ter que gramar o Socrates...
..maricas por maricas,preferia o Portas,sempre é mais divertido....

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

POTT e a super classe média pirosa...


A todos que se quiserem tornar na super Classe Média portuguesa e pirosa, um óptimo ambiente de observação é o trânsito das nossas cidades. Ali podemos estudar, por imersão total e com riqueza de detalhes, os valores deste peculiar grupo social.

O piroso médio-classista encara o trânsito como se fosse uma grande batalha em defesa do seu direito individual prioritário de ir e vir, o que significa que cada indivíduo da Classe, no trânsito, tem prioridade um sobre o outro e vice-versa (numa estranha equação ainda não resolvida pela matemática). E todos têm prioridade sobre os peões (este ponto já é bem mais fácil de entender).

Para encarar o trânsito, cada cidadão da Classe deve estar equipado com o seu carro. Se uma moradia médio-classista possui, por exemplo, 4 habitantes em idade para serem condutores, o ideal é que ali haja 4 carros. O carro é uma importante propriedade desses cidadãos, e o seu interior é o seu mundo particular, uma extensão da sua casa sobre rodas. Por isso, o carro para este público precisa ser equipado com "jantes especiais", equipamento de som potente, ar-condicionado e lugar para no mínimo cinco passageiros (para levar objetos e peças de vestuário, uma vez que raramente o carro do médio-classista transita com mais de uma pessoa além do condutor). Tudo isso garante que o realmente importante (o mundo particular do condutor) esteja muito agradável, a fim de evitar o contacto com o mundo exterior, totalmente desprezível. Para este, há um mecanismo de comunicação denominado buzina.

Os aprendizes de médio-classistas, precisam de aprender que, para ser da Classe, é necessário revoltar-se com as actuais condições do trânsito. Assim, no seu papel de cidadão politizado e pagador de impostos, deve exigir das autoridades que abram espaço na cidade para mais carros. Que desapropriem,deitem a cidade abaixo, mas garantam a duplicação das vias até resolver o problema (o que provavelmente será quando a cidade for um grande plano de asfalto). Fiquem revoltados também pelo facto do Governo se preocupar mais em, violentamente, coibir o vosso direito sagrado de ingerir álcool quando conduzem, do que abrir mais acessos para os vossos carros poderem transitar mais rápidamente.

Também é preciso aprender a ter modos neste ambiente. Se você se quiser parecer realmente com alguém da Classe, ande sempre na frente dos outros. Se alguém fizer sinal de que quer mudar de faixa e ficar à sua frente, mesmo que você esteja ainda longe, acelere loucamente para passar à frente antes que ele realize a manobra. Logo, sabendo que todos agirão assim, dispense o uso dos piscas (pode até pedir ao mecânico para desactivar os seus). Você não tem que dar satisfações sobre para que lado vai virar ou se quer ou não mudar de faixa.

Portanto, aspirante, o primeiríssimo passo para entrar na Classe é abandonar o transporte colectivo, o metro e até mesmo a bicicleta (esta somente pode ser usada para lazer, e mesmo assim, deve ser transportada de carro até o local do uso). No transporte colectivo você está num espaço público, sujeito a ficar perto de pobres e nada ali é "só seu". É muito melhor que transite dentro da sua máquina de vidro e metal, "privatizando" (aprenda a usar esta palavra) cerca de 10m² do espaço público, com uma viatura com mais de 1000kg que queimará gasolina para transportar uma pessoa de 70kg, a fim de garantir o seu merecido bem-estar até ao seu destino. Vocês tem direito, vocês são da Super Classe Média Pirosa.

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Vejam este exemplo o espaço ocupado por 54 pessoas, sendo 1) cada uma no seu carro; 2) todas num autocarro; 3) cada uma numa bicicleta.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

POTT em busca do passado perdido...

Em busca do passado perdido...

Por razões que não são para aqui chamadas, vi-me obrigado a refletir sobre o passado. Não se trata do passado institucionalizado e congelado pelos historiadores num texto. Mas do passado-memória, aquele passado que pertence aos indivíduos, que é vivo na mesma proporção em que ele é sentido.

O problema é que esse passado vivo é passível de ser perdido e muitas vezes não nos damos conta disso. Acreditamos apenas no acúmulado do passado, das experiências, dos sentimentos. Concebemos que todo passado é possível de ser preservado. Basta contratar um historiador. Mas...o passado deixa de ser vivo, torna-se uma narrativa muitas vezes empolgante. Mas é uma forma material, dura. Às vezes é perfeita em descrição. Mas falta-lhe a essência que lhe deu vida.

Mas, sem aceitarmos a narrativa do historiador e sem aceitarmos que o passado vivo seja congelado, temos que nos adaptar a idéia do passado perdido. Mas então, como perdemos o que faz parte de nós?

Há pelo menos duas formas...Uma delas é o passado perdido voluntariamente. A idéia de que a nossa vida,que é um amontoado de eventos incoerentes, ignora as nossas próprias tentativas de lhe dar coerência. E ignora principalmente as nossas tentativas de esconder partes de nosso passado que nos constrangem no presente. No final,as nossas tentativas de dar coerência são também históricas, mas nem por isso são inválidas. O que elas fazem é exatamente avaliar o passado com olhos do presente. E quando esse passado não nos interessa, suprimimo-lo, fazemos questão de "perder esse passado", de enterrar parte de nós. Os historiadores, que possuem um compromisso com a verdade, não se contentam com a supressão do passado vivo. Mas, no fundo sabem que essa é a prática padrão das trajetórias de vida...

Há ainda uma outra forma de perder o passado vivo, que é o passado perdido involuntariamente. Quando o passado vivo se cristaliza em pessoas, fotos, cartas...enfim, quando há uma concretitude no vivido. Nesse momento, o passado vivido concreto está susceptível à deterioração do tempo. As pessoas morrem, as fotos apagam-se, as cartas são devoradas pelas traças. A memória guarda tudo isso...mas a memória também falha, ela apaga-se. A memória perde-se e aquilo que lhe desperta, sem ter uma existência concreta, não consegue ser efectiva. Quantos sabores, cheiros e cores se tornaram apenas sombras na minha memória por nunca mais poder reproduzí-los na minha vida?

Perdemos partes de nosso passado cotidianamente porque lembrar de tudo é tão impossível quanto esquecer de tudo. Mas é quando temos consciência de que perdemos o passado - intencionalmente, ou não - é que as angústias se acumulam. Quando se percebe que a memória não pode ser mais resgatada, quando não há posteridade para salvar o passado. E no entanto, é nesse angustiante momento que se percebe a necessidade de buscar o passado, vivo, eternizado nas experiências. É somente quando ele é perdido é que pode se pensar em resgatá-lo.

sábado, 19 de setembro de 2009

..POTT eo ridiculo do amor...


" todas as cartas de amor são ridículas. "
“não seriam cartas de amor se não fossem ridículas. "
"Se há amor têm de ser ridículas”.

Quem assim escreveu, todos conhecem.Não vale apena dizer o nome....
Que me desculpem os apreciadores, mas nunca levei muito a sério esse tipo.

Para os apaixonados, românticos e adeptos do conto de fadas, a constatação (óbvia) é uma verdadeira blasfêmia.

O amor é ridículo?
As cartas de amor são ridículas?
As histórias de amor, tantas vezes contadas em livros, são ridículas?
Para mim, meus amigos, são.
O amor, ora mais ora menos, é completamente ridículo.

Mas, o que é esse tal ridículo?
Do latim ridiculu, significa “aquele que provoca riso”.
Querem mais risos provocados, involuntariamente no canto da boca, de que quando estamos a amar?
Quem já esteve enamorado sabe exatamente do que estou a falar.
O amor provoca risos incontroláveis e teimosos. Se no “senso comum”, o ridículo se transformou em adjetivo pejorativo, ainda assim há tantos amores ridículos!
O que dizer de toda a aflição potencializada, o desencanto, a melancolia, a adoração extrema à pessoa amada, etc, etc, etc.
O amor é ridículo pelo riso, mas, também pela dor.
Cada um escolhe o “grupo”em que quer e merece estar.
O amor não tem, muitas vezes, ao contrário do que nos ensinaram por meio dos contos de fada, um final feliz – tal qual a vida real.
O “felizes para sempre”, em geral, vai até a página 15. Dentro e fora da ficção.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

...o coração de POTT...


Um dia fui operado.Podiam ter resolvido o meu problema.
Acontece que estive sempre a dormir.Não me lembrei de avisar o cirurgião e uma singular mania instalou-se definitivamente....
Singulares são, em última análise, todas as manias de louco; entretanto, a do meu caso , possui a notável qualidade de consistir numa coisa que tem ares de teoria, através da qual uma sólida corrente de argumentação arrasta o meu espírito demente ao mais estranho disparate.
É preciso extraí-lo, raciocino... O coração é uma víscera perfeitamente tola... Não passa de um estúpido fole, soprando sangue pelas artérias, em vez de ar... A ciência pode trocá-lo por um aparelho qualquer, que o substitua na função de centro circulatório, evitando, contudo, as regalias morais que goza a tal víscera da minha implicância.
Se o coração se contentasse com o papel fisiológico de fole, de bomba de compressão, e lá se conservasse modestamente, no fundo da sua gaiola de costelas, a trabalhar obscuro e honrado, nas suas diástoles e sístoles, eu não exigiria que mo extraíssem como um obstáculo que me estraga o organismo e a vida; mas o intruso esquece que nasceu para fole; mete-se pelos domínios da existência moral, a fazer concorrência com os sisudos miolos, e deita, então, quanta tolice pode fazer um sapateiro qualquer.
Talvez eu passe por doido, mas afirmo que, se tenho tentado arrancar esse músculo e se exijo a extirpação desse órgão nocivo, ainda que me arrisque a sucumbir, é que muito tenho refletido no assunto, e as minhas convicções contra o coração vêm de longa data, penetraram com valentes raízes no meu espírito.
A vida dos homens é o positivo. Fora do positivo, existe, apenas, o vasto mar do ridículo. A pilotagem da vida consiste em evitar o naufrágio no grande mar.Todavia, o naufrágio é quase inevitável, porque o navio leva uma carga enorme e irrequieta, que faz variar constantemente o centro de gravidade e perturba a todo o momento a flutuação regular.Esta carga é a tal víscera.
Carga ao mar, pois! libertemos a nau!...
O positivo é o sério, é o grave, é o normal, é o burguês, é o vulgar, é o comum, é o tranqüilo, é o prudente, é o fecundo; é o almoço de todas as manhãs e o jantar de todas as tardes; é a herança para a prole. Fora disso, o exagerado, o exacerbado, o entusiástico, o pródigo, o impensado, o idealista, o fantasioso, o desvairado, o inconveniente; o pão nosso de cada dia, no mais restrito sentido dominical; o tolo, o desfrutável, em suma.
É sempre o mesmo abismo de ridículo, ameaçando o sério e o positivo.
E procuremos o que nos faz pender constantemente para o abismo do desfrute... É a víscera; é a víscera fatal!...
O coração produz, na família, o enamorado, um tolo; na sociedade, o herói, outro tolo; na literatura, o sentimental, outro tolo; na filosofia, o melancólico, mais um tolo...
Enamorado, herói, sentimental, melancólico, tudo gira numa vertigem de ridículo, debaixo do grande olho positivo, que ri, como quem vê arder a barba do vizinho, e vai deduzindo em silêncio as gordas e proveitosas normas da experiência.
-Savoir vivre!...
O coração é o pai do ridículo pungente. Há quem ache graça no idiotismo e na asneira. Isto é o ridículo banal e fútil.
Ridículo miserável, profundo, é o das vítimas do coração. É o ridículo propriamente dito; é o ridículo humano.
Pôr um termo a este mal parece-me um dever elementar da ciência. Sabe-se que a origem do mal aí está palpitando, por entre a quarta costela e a quinta.
A medicina reflita...
Tanto mais que não é só o facto objetivo do ridículo que condena o coração. É, ainda mais, o facto subjetivo dos sofrimentos rudes que causa a víscera a quem a traz, cada vez que dá em espetáculo às gargalhadas positivas uma fraqueza e uma tolice da criatura humana.
Não há nada mais salutar do que o riso. Entre outras vantagens, tem a grande vantagem de não ser a lágrima.
O riso é a mais agradável manifestação do positivo.
Quem solta a gargalhada, tem a superioridade de não ser o palhaço.
Riamos, com os diabos!... Vale mais gozar do que ser gozado.
No circo da vida, a gargalhada ocupa as arquibancadas anfiteatrais. No meio, faz caretas e macaquices o grotesco, o ridículo, o náufrago da víscera.
O homem que ri, está fora do picadeiro. Cuidado com a víscera, que ainda te leva para dentro!...
É preciso, portanto, que se resolva um meio de abolir o risco de rolar da arquibancada.
É o que eu procuro.
Quem sabe bem rir, não cria tropeços à própria liberdade.
Há uma coisa que se chama o amor, e uma coisa que se apelida de ódio. A liberdade positiva tem os pulsos ligados por essas duas algemas. Descubram a outra ponta da cadeia, que hão de encontrá-la soldada ao maldito fole do sangue.
O amor faz a fidelidade, a dedicação, o cativeiro voluntário e outras coisas que a linguagem, com o seu modo astucioso de resolver as dificuldades, denomina virtudes; faz também, transformando-se por movimentos reflexos, ou paralelos de espírito, o que se chama a indignação, a revolta, o ciúme, a vingança, o ódio, enfim; e certas coisinhas que ainda a linguagem, sem grandes argumentos, especializa com o rótulo de vícios.
Tudo isso é uma série de algemas, que prendem duma ou doutra sorte. Apaixonado significa acorrentado. Quem ama, prende-se; quem odeia, prende-se. Só é livre quem ri.
Por isso é que o riso é salutar e raro.
A gargalhada é essencialmente filha do cérebro. É livre como o sátiro do bosque.
Viva a gargalhada!
Quem dá vaias, não as leva.
É a grande garantia da gargalhada. Contra esta garantia existe a víscera-fole. Risque-se a víscera, em nome da liberdade, ou ao menos em nome da seriedade positiva da vida.
Dizem que Molière é a comédia... Eu não penso assim. Moliêre escreveu o drama dos idiotas, encenou a parvoice fútil. Para mim, a comédia, a comédia real veio de Inglaterra com aquele pobre Romeu, que passava noites a cantar serenatas embaixo da varanda da namorada, entoando com os galos; ou ia de madrugada subir por escadas de corda, sem pensar no papel que faria, se a polícia o agarrasse como um gatuno.
Cômico, para mim, é o furibundo barba-azul do Otelo, que seria um tanto mais brando, se temesse o código. Cômicas são todas essas caricaturas de malucos, engendradas pelo poeta psicólogo inglês.
A comédia de Shakespeare é na verdade triste. Mas é triste, porque é real; e é triste somente para quem não sabe rir dessa coisa tola chamada paixão.
Comparados Romeu e D. Juan, o nosso Romeu não passa de um principiante, que não entende do riscado, e que ainda suspira, à luz de alvoradas, como a gata ao cio.
É que D. Juan sabe rir.
Certo é também que na comédia de Shakespeare há sangue; mas isso não obscurece o grotesco.
Triboulet, que começa por fazer rir, acaba por fazer chorar.
De mais, o sangue da comédia inglesa é a última conseqüência da ridícula soberania do fole circulatório. É requinte sui generis do desfruto.
Quando aquela gente se suicida, ou cai assassinada e mesmo quando assassina, ouve-se o bom senso positivo, burguês e prático dizer: - pobres diabos!
O positivo é que é o verdadeiro. É preciso conciliar-se tudo com ele.
As nevroses constituem a praga da humanidade.
Guerra às nevroses!
A cidadela das nevroses é a famosa víscera.
Arrasemos a cidadela!
Sim, meus caros , já é tempo de se lançar mão aos freios da estafada cavalgadura de D. Quixote, que vai desastradamente passeando a gesticulação ossuda do seu entusiasmo cavalheiresco, por entre a vaia das gerações!
Já é tempo de se suspender este espetáculo do cavalheiro da Mancha, eternamente bom, mas eternamente tolo!...

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Vou ao médico para ver se me cura...se me tira o fole..quero dizer, o coração...

sábado, 12 de setembro de 2009

..as nuvens de POTT....


Hoje está um belo dia de sol...mas prometeram muitas nuvens...
Perante a promessa não cumprida, resolvi falar sobre as nuvens...

Nos velhos sinos liam-se expressões deste género: «funera plango, fulgura frango,sabbata plango,excito lentos,dissipo ventos, placo cruentos» Noutros casos mais resumidos: «Vivos voco,mortuos plango,fulgura frango»

O que significa:
«Choro os mortos,disperso as tormentas,anuncio as solenidades; estimulo os vagarosos,dissipo os ventos,aplaco os violentos.

E, na fórmula mais breve :
«convoco os vivos,choro os mortos,amaino os temporais.» Amaino temporais,dissipo ventos! Acreditava-se outrora que,tocando os sinos, as ondas sonoras dispersariam as tempestades. Ficou então como norma,não tocar os sinos durante os temporais e quando houvesse granizos.Noutros termos,..«quem tiver nuvens sobre as suas vinhas,guarde-as e não as empurre para a povoação vizinha. Hoje acontece a mesma coisa,com fins diferentes: «Se sofres de estiagem, espera pacientemente a chuva e não furtes as nuvens alheias. Esta nuvem é minha». A cidade de Nova York preocupada com uma seca intensa,confiou a solução do problema aos cientistas; e estes responderam que nada é mais fácil: basta deitar nas nuvens,que não se decidam a rebentar,umas pitads de gelo seco e de iodo(desculpem a forma simples com que me exprimo).As nuvens coverter-se-ão em chuva benfazeja. Mas depois de se pronunciarem os homens de ciência,
intervieram os juristas:
-Um momento! A quem pertencem as nuvens?

As nuvens são eminentemente errantes ,instáveis ,inconstantes, femininas.Como se pode regulamentar-lhes os caprichos,a fantasia,a vagabundagem? Elas pertencem a todos que se cansaram de pousar os olhos na terra.Apossar-se de uma nuvem, para a submeter a um processo fisico-quimico, a um regime violento de gelo e iodo, significa furta-la àqueles sobre cujas terras ela passaria dentro de alguns minutos,ao sabor da extravagância dos ventos. Como é possivel dizer legitimamente:«Aquela nuvem é minha»?
Assistiremos à instituição dos tribunais das nuvens - como ha em certos paises os tribunais das aguas - para julgar os ladrões mais líricos:os ladrões de nuvens.
É ,sem dúvida, tão poético roubar uma nuvem como furtar um raio de luar. O poeta Sam Benelli,morto há algumas decadas,já não lançará do alto o seu célebre desafio: «Acorrenta uma nuvem se puderes!» Eu nunca imaginei que,um dia, as nuvens pudessem converter-se em objecto de comércio.Sempre as vi como estátuas colossais em movimento,moldadas pelo polegar de Miguel Angelelo para preencher os longos dias da sua eternidade; ou rarefeitas e atenuadas como a transcrição musical da «Primavera» de Grieg.Simbolizam para mim,a mudança, a transformação da beleza inacessível.Eram figuras esguias e aureoladas de virgens,dragões horrendos,bruxas cavalgando vassouras,bigodes temiveis de guardas postados a dirigir o tráfego das estrelas,funcionárias vestidas de branco,distribuindo bilhetes de transito debaixo do arco-íris. Mas então que mais há para vender?A água,a «irmã água» de S.Francisco,a «coisa mais bela do mundo»,na opinião de Pindaro, já foi engarrafada,fechada com uma capsula,receitada pelos médicos,onerada com um preço e com taxas governamentais. Se furtarmos ondas hertesianas,isto é ,uma canção, por meio de um rádio não controlado pelo fisco,expomo-nos a um processo..não sabiam?
Ainda não se descobriu um truque para vender o Sol; inventaram-se porém os paineis solares que nos dão um pouco de aquém e de além do espectro solar.
Como isto é triste!
Um dia, esse belo temporal,que me agita o papel enquanto escrevo,e me descarrega os nervos,deixará de ser meu ,para pertencer a quem der mais por ele... Resta uma única esperança: ajustar contas com a abóbada celeste e com os fenómenos intermediários o que continuará a ser tarefa dificil,como na época da invenção do para-raios. Franklin,aludindo ao seu invento recente, escrevia a Félix Nogaret : «não obstante as minhas experiencias sobre electricidade, o raio continua a cair-nos no nariz e na barba.»
A uma senhora que passa férias neste fim de verão, e que desolada se pergunta porque não se usa agua mineral para fazer frente à falta de chuva,tenho impetos de lhe responder como o fidalgo que,vendo a amada contemplar embevecida um estrela,advertiu:
- não olhe,para não desejar.É coisa que não lhe posso oferecer...

Eu nunca poderei oferecer uma nuvem; mesmo que elas venham a ser vendidas em saldo...
Não posso dissociar tudo isto à lembrança do que li sobre um diálogo travado no tempo em que os poetas eram tomados mais a sério,entre um poeta arabe e uma florista:

-Que vendes? -Rosas
-Por que vendes rosas?
-Para ter dinheiro.
-E,com dinheiro,que poderás comprar que seja mais belo que as rosas?
Hoje, o poeta arabe perguntaria nostalgicamenté: -Que há de mais belo do que as nuvens?

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

...POTT e o carreiro.....


Se forem à floresta apanhar amoras ,tenham cuidado com a feiticeira que mora ao fundo de um carreiro. Não se aproximem!
Agora, desiludam-se os que esperam ver faíscas, relâmpagos e fumo colorido.
Sabem como é a feiticeira?
Não?
Tambem não posso dizer... prometi-lhe..
Como não a vejo sempre,imagino-a..e vejo-a nos sonhos..
Se se descobrisse onde fica a casa da feiticeira, ela desaparecia nos ares.

A feiticeira vive numa casa com sete jardins e traz uma jóia que custou sete feitiços.
As suas paredes são de prata e o seu telhado de musgo côr de rosa cintilante.
Mas escutem, eu vou dizer-vos ao ouvido onde fica a casa da feiticeira.
Fica num canto da floresta, lá onde floresce a arvore da "Lua".

A feiticeira dorme, estendida sobre as margens distantes de sete rios inacessíveis.
Só eu no mundo a posso encontrar.
Acho que ela é minha amiga..

Os seus braços estão cobertos de braceletes e das suas orelhas pendem longas pérolas: a sua cabeleira ondeia até ao solo.
Se eu a tocar com a minha varinha mágica, ela acordará e cairão jóias dos seus lábios se sorrir.

Querem, voces, que eu vos diga ao ouvido?
Ela está no fundo do carreiro mágico da nossa floresta, lá onde se encontra uma arvore da "Lua" muito grande.

Quando forem à Floresta na hora do banho, antes de irem para o rio, subam ao telhado.
Vão-me encontrar sentado num canto da floresta, onde se entrecruzam as sombras de dois velhos muros.

Só o melro tem autorização para me acompanhar, porque ele sabe onde mora a feiticeira do conto.
Querem que vos diga ao ouvido onde mora a feiticeira?

É no fundo de um carreiro encantado onde se encontra a arvore mágica da "Lua”.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

..POTT e as Mouras Encantadas....


As lendas descrevem as mouras encantadas como jovens donzelas de grande beleza ou encantadoras princesas , “perigosamente sedutoras” que aparecem frequentemente cantando e penteando os seus longos cabelos negros com pentes de ouro..
Às vezes tomam a forma de mulher-serpente (e nesse caso devem ser desencantadas com um beijo) ,ou têm asas e vivem num lugar mítico conhecido como "Mourama".São seres belissimos obrigados por oculta força sobrenatural a viverem em certo estado de sítio como que entorpecidos ou adormecidos, enquanto determinada circunstancia lhes não quebrar o "encanto”.

Moro numa casa virada para um rio,que corre entre o sono e o sonho ...
Lá ao fundo onde corre esse rio vivem as Ninfas e as Mouras Encantadas.
Dormem onde o rio corre e pairam nas penedias em noites de luar.
Vislumbro-as ao longe, da varanda da casa onde hoje habito.
Cantam e brincam,acreditem.Vejo-as desde Setembros antigos,em noites luarentas e de calor.
Quando dão por mim, contam-me histórias de encantar....

"Lendas antigas lembram-nos contos de reis e de fadas e até se diz que um nobre mouro à noitinha as ia namorar ao luar..."
" ..e tambem dizem que quando aparece o luar em noites de lua cheia, as ninfas cantam e dançam na areia.."

Quanto ao dito mouro, desapareceu , nunca mais o vi.O mais provavel é que tenha voltado à terra ou se limite a ve-las timidamente de alguma varanda na encosta.Quanto às danças, essas continuam,como antigamente...embora com mais discrição..

Acreditem no que vos digo,eu sou o menino Pott,não minto.Juro-vos que isto é pura verdade....
É verdade tambem que o rio me levou muitos sonhos em direcção à cidade....
Depois perderam-se no Mar.Não voltaram...
Nem me lembro deles,sei apenas que os tive...

Da minha varanda continuo a contemplar, as ninfas e as mouras encantadas, como quando era menino..
Ninguem lhes quebrou o "encanto", pois por lá se matêm.
Por vezes fazem-me sinais..e eu tambem lhes aceno..acreditam?
Bem..eu, pelo menos, acredito...

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

..POTT e as revistas côr de rosa.....


Confesso,com alguma vergonha,que tambem folheio as revistas côr de rosa.
Na sala de espera do dentista é a minha leitura preferida.
No mês passado enquanto esperava pela minha vez abri uma dessas revistas e fiquei a saber que a dourada Mita Bettencourt brinca de libelinha no casamento de Virgínia Koschavsky e André Gallupe o padrinho Nando Sphinx mostra as covinhas do rosto para a câmara.
Quem diabos é essa gente? Até os nomes parecem falsos. (será que alguém realmente se chama Nando Sphinx.) Mas quem é essa gente?
A mulher que assina a coluna social parecia crente que toda a gente sabe quem é essa gente dourada que brinca de libelinha.
E o que é brincar de libelimha? E o que será que Mita Bettencourt faz na vida? Será que ela é neurocirurgiã? Uma neurocirurgiã dourada que brinca de libelinha no casamento de Virgínia Koschavsky e André Gallup? Não fica bem, fica? Vocês deixariam que alguém assim fosse operar o vosso cérebro?

Mas continuemos: Carina Zaratin abre um sorriso. Ana van Steen ri de tudo (outra que eu espero que não seja neurocirurgiã).
Patrícia Carta ouve Chris Saddi. Pedro Piva troca idéias com Lucília Amorim (quais? Fiquei curioso). Bom, alguns sobrenomes são famosos: famílias que enriqueceram a vender rolhas. Mas os primeiros nomes não são. Fico a imaginar que foram simplesmente inventados pela colunista social, que não tinha tempo, nem paciência, para ir de facto ao casamento de Virgínia Koschavsky e André Gallup. Na verdade, espero que essa gente tenha sido inventada. Graças a Deus, nunca conheci ninguém que se chamasse Nando Sphinx; não acredito que exista ninguém chamado Nando Sphinx. E se alguém apertar a minha mão e disser, “Olá, sou Nando Sphinx”, dou-lhe um murro, pra ele deixar de ser anormal. Quatro anos de tropa devem ter servido para alguma coisa.
Brinca de libélinha. Mostra as covinhas para a câmara. Alguém diria isso de, sei lá, Nietszche? «O filósofo e bonitão Friedrich Nietszche mostra as covinhas para a câmara no casamento da dourada Giorgia Flemming com a prateada Carina Zaratin? A translúcida Hannah Arendt brinca de panda com o fofo da hora, José Carlos Pereira, no Bar do TWINS do fantástico Batata , sob
o olhar benévolo da astrologa Maya? Não, é claro que não. Acabaria com a reputação de qualquer um. O que me leva à próxima, à mais importante das perguntas:

O que faz essa gente? Que livros escreveram? Que filosofia desenvolveram? São médicos, são astrônomos,bruxos,cientistas de algum tipo? Que reputação têm? Qual o talento deles? Por quê, exatamente, se supõe que eu deveria conhecer os seus nomes?
Oh, eu pergunto, mas eu sei, é claro (e vocês também sabem) que eles não fizeram nada e que não têm talento algum. Se um Anjo Furioso, na noite do casamento de Virgínia Koschevsky e André Gallup, recebesse de Deus a ordem, “Vai aquele salão, e chegando ali separa todos aqueles que não tiverem dentro de si mesmos nenhum talento, e em Meu Nome mata-os sem piedade”,
ninguém sobraria vivo no salão. Ou talvez só a Helena Sacadura Cabral, tremendo num canto, meio escondida nas cortinas e coberta do sangue dos outros, perguntando a si mesma: “O que diabo eu vim fazer aqui?”.

Sei o que vão dizer. Que é inveja, pura inveja. Que no fundo eu bem que queria que dissessem que eu brinquei de libélinha no casamento de dois badamecos. Não, não, três vezes não. Aparecer numa coluna social é tão embaraçoso quanto ser descoberto (de bermudas com suspensórios, olhar ingênuo e sorriso estúpido) numa foto antiga da Mocidade Portuguesa.

E há mesmo, na verdade, uma conexão entre as pessoas das colunas sociais e as pessoas que aderiram ao nazismo na década de trinta. São pessoas que fazem o que for preciso para estar bem, ficar amigo de quem importa e fazer parte da gente bonita.
Alguém tem alguma dificuldade em imaginar a Lili Caneças, numa foto de 1942, “recebendo de braços abertos- que loucura!- os bravos e lindos soldadinhos prontos para a linha da frente, na festa que sacudiu o mês passado o Ritz”?

E depois dizem que essa história de elevador de serviço e elevador social é horrível, racista etc. Se é verdade que é uma invenção portuguesa, é uma das poucas boas invenções da nossa terra. No prédio do meu amigo Jonas, por exemplo, a dourada Mita Bettencourt só subiria pelo elevador de serviço. O meu amigo reserva o elevador social para as visitas que têm uma saudável cor não-dourada e não brincam de libelinha em cima do tapete.
Essa gente é a nossa elite? Outros países tem Robert de Montesquiou, Beau Brummel e o Barão Von Thyssen, e nós temos essa gente:o mariconço Castelo Branco,a pirosa Maya, a Caneças,a costureirinha Fátima Lopes mais o seu marido azeiteiro e por aí
fora..?
Não, é claro que não - só posso pensar que a nossa elite é secreta: trinta ou quarenta pessoas de gosto e inteligência, vivendo discretamente aqui e ali. Que a nossa elite somos eu e vocês. Escondemo-nos atrás da porta e ficamos a observar os criados fingindo que são os donos da casa.
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sábado, 5 de setembro de 2009

..a relação de POTT com o acaso.....



Ontem tive uma tarde inteiramente livre.Não quiz visitar lugares conhecidos,onde naturalmente poderia encontrar amigos, ou ir ao cinema,porque isso teria sido ocupar tempo,ou renunciar ao prazer animal da absoluta distensão.A distensão é andar sem programa e sem meta,atravessar uma rua sem razão,apanhar um autocarro sem perguntar onde nos levará,interessar-nos pelo quadro que não nos convence,comprar um livro que não leremos,comprar a gravata que amanhã acharemos horrivel.Para um homem que geralmente tem as suas horas racionalmente distribuidas,uma tarde irracional é o «faux-tirage» que no Bacará modifica todo o andamento da partida.A minha vida é,muitas vezes,um rigido concatenar de relações de causa e efeito,e por isso de vez em quando preciso de quebrar essas relações e criar novas.Explico-me?
Sair com alguem quer dizer conversar.Conversr é escravisarmo-nos à lógica e à coerencia,enquanto andar sózinho é obedecer à própria fantasia,ceder ao acaso,declamar em voz alta,diante da vendedeira de frutas,um verso que nos passa pela cabeça,ou procurar na lista do restaurante Chinês os bichos-da-seda ,ou provocar no velho porteiro do Hotel Infante Sagres,
carregado de galões,as expressões de desdém contra a pátria ingrata,que lhe tirou o uniforme de heroi para lhe enfiar o libré de criado.Isto é,ir ao encontro de tudo aquilo que na ordem da minha bem distribuida jornada eu teria que recusar.
É necessário ,meus amigos,realizar de vez em quando gestos absurdos,para oferecer ao acaso a ocasião de nos favorecer.
Há muitos anos atrás,ia eu lentamente no meu carro sob um aguaceiro,gozando a musica das gotas de agua nos vidros e exasperando o buzinar impaciente dos carros que me seguiam.Um condutor do carro ao meu lado,desanimado no encravanço do transito,fazia gestos desesperados. «Estás bom?»pergunto-lhe abrindo o vidro.Ele responde-me dizendo-me: «olá,que fazes aqui?»Tratava-se de um companheiro de tropa..Eu digo-lhe: «pára ali à frente»Ele fez-me sinal de assentimento:«é para já».Conversamos,soubemos um do outro,o que eu fazia,o que ele fazia..Ele gozava de uma situação finaceira invejável.Passou a contar-me como desenvolvia a sua actividade.Onde trabalhava e por aí fora....
-Pois bem,aquela era uma das minhas tardes irracionais.Três meses depois estava a trabalhar na mesma empresa do meu amigo.A minha vida tomou rumo totalmente diverso daquele que até aí levava;progredi dentro da área e tive uma carreira que se pode dizer de sucesso, independentemente de alguns precalços naturais de quem corre riscos.Seria,portanto, um ingrato para com o acaso se, depois de tão bem me ter servido,não o solicitasse mais.
Claro que não se anuncia que se pretende ter uma tarde irracional.Se a anunciasse ,deixaria de o ser.E por maior comunhão de espirito que possa existir entre as pessoas que conosco convivem,é preciso não entregar todas as chaves da nossa alma.Um cantinho secreto devemos conserva-lo para nós.Quero reservar-me o direito de pensar coisas idiotas,ou mesmo coisas más.
Não ha festa,jantar de amigos ou concerto que valha a minha incoerência,a minha solidão,o meu andar ao acaso pelos suburbios da cidade,o meu abandonar-me ao insuspeito,ao imprevisivel,aos truques dos fazedores de ilusionismo,às trapaças do jogador da "Vermelhinha",ao cozido de feijão em cinco minutos no "micro ondas".....

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

...POTT...a Mulher e o Amor....




Para saber alguma coisa,ainda que apróximadamente,sobre a mulher e sobre o amor,estudei a psicologia dos individuos e a psicologia colectiva;li as histórias dos romancistas mais capazes de fantasia e os tratados dos estudiosos mais positivos;demorei-me na leitura dos livros antigos e dos ultramodernos;fiz falar homens que foram amados e homens que foram traidos;examinei o problema do ciúme,do engano e da fidelidade ;tentei experiencias noutros e em mim mesmo;
recolhi confissões;analisei casos sem conta;interroguei uma mulher inteligente,que pelo seu feitio mental estava em condições de estudar na sua própria pele os fenómenos e explicar-me as causas,os sintomas,as consequencias.O meu cérebro converteu-se num catálogo de biblioteca; creio não ter ficado nada de novo do que lêr ou que escutar sobre o amor,pois que eu vi todos os tipos e previ todos os casos.Ao fim de tantos anos de experiência,de análise e de meditações, cheguei a uma conclusão depois de tudo que se escreveu e pensou,que se supôs e descobriu, depois da verdade pressentida pelos homens e confessada pelas mulheres,depois dos expedientes ,ameaças,promessas,dinheiro, joias , revolver-escolhidos para recuperar um amor perdido ou conquistar um amor impossivel,o sistema que tem dado melhores resultados, até agora, é comfessar o nosso segredo à parabola daquela pequena coisa incandescente que atravessa o azul nas noites claras de Agosto...


quinta-feira, 3 de setembro de 2009

...POTT e os chatos...



Devido a ter passado nos ultimos dois dias algumas situações aborrecidas decidi desabafar convosco os motivos porque não tolero Chatos....
Não suporto chatos. Prefiro os filhos da p.... Os leprosos, arrogantes, cínicos, burros, ladrões. Prefiro até a polícia.
Mas com chatos não aguento!
Acreditem,naõ suporto chatos.A minha vocação não é para o sujeito subserviente, lambe-botas, essa classe que vende a alma para agradar ao patrão.
Estou a escrever este depoimento ouvindo Cazuza, a voz que os meus ouvidos melhor reconhecem e que está a cantar assim:

"Será que eu tenho um destino?
Não quero ter a vida pronta
Como um plano de trabalho
Como um sorvete de menta

O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba a gente pensa
Que ele nunca existiu"

Tenho grande dificuldade em ser social, bem-comportado, convencional. Desprezo o sorriso forçado, o sorriso-recepcionista, o sorriso-profissional.
Acho uma desonestidade sem tamanho o cidadão à paisana ter que seguir cartilhas de conduta para agradar a quem quer que seja.
No meu expediente de vagabundagem sou o meu próprio patrão. Não devo satisfações. Não morro de amores por gente falsa. Não freqüento reuniões sociais para marcar o ponto com aquele contacto importante. Que se lixe o contacto. Nunca corrijo a postura, não manejo o talher como um espadachim, sento-me à mesa ( ou não) comendo como um faminto, um selvagem, coço a cabeça e digo piadas desagradáveis.Sou o que se pode chamar um tipo desagradável. Principalmente para os chatos...
Gosto das pessoas. Todas elas. Mas isso não significa necessariamente que tolero quando elas invadem o espaço que marquei como meu somente. Tenho necessidade de muros, cercas e arvores que não percam a folha. Sou aquele tipo que costuma observar tudo de perto, mas escondido na moita, sem ser visto. Abraço as pessoas, mas só quando quero. Tenho uma tara cruel pelo meu pequeno latifúndio de solidão, os meus momentos da verdade, quando liberto o meu animal selvagem, quando passeio com a minha fúria. Imagino mil vidas e civilizações,
faço planos e traço metas, crio textos e sinto a arte que me corre nas veias.
Não tenho muitos amigos. Por opção. Não acredito que eu tenha condições de cultivar assim tantos laços. Nunca fui à casa do meu melhor amigo, que morava há anos em frente à minha antiga casa. Possivelmente nunca irei. Mas por que iria, se nos encontramos sempre, gostamos um do outro, e não há em mim maior ambição que essa? Acho fantásticas essas coisas de msn, e-mails,ect. O mundo virtual possibilita-me estar mais próximo das pessoas à minha maneira. Da maioria das pessoas que gosto, não exijo presença física. Eles podem existir ali mesmo, naquele cantinho virtual, sob meu controle por toda a eternidade. Quando não me apetece, bloqueio e não estou. Quando estou encantado, freqüento-os da minha própria sala e coço o nariz, elegantemente.
Sou assim, um sujeito anti-social, um bicho estranho, que ama a humanidade, mas é selectivo quanto ao próximo, esse animal distante citado pela Bíblia.
Desculpem se os chateei....