quarta-feira, 29 de abril de 2009

..a Vida segundo POTT.................num dia não


A Vida...que coisa inútil!Levantar todas as manhãs,calçar os sapatos,fazer a barba,ver gente falar.olhar os ponteiros do relógio que tornam incansavelmente a passar pelos mesmos pontos em que já os vimos milhões de vezes.Comer.Comer pedaços de cadaveres,comer frutos mortos ou,o que é pior,modificados pela cozedura;apanhar frutos tão belos para os fazer passar, degradando-os, através do nosso corpo.Devorar coisas mortas,esperando o momento de nos tornamos coisas mortas tambem.Criar coisas novas para destruir para que da sua distruição surjam outras novidades.Tudo que nos rodeia está morto:aqui e ali há algumas tentativas de vida,mas o resto está morto;a lã do meu fato está morta,a perola que adorna o colo de uma mulher jovem é o esquife de um verme...Ter que sorrir para as mulheres;esforçarmo-nos para por ser um pouco diferentes da maioria dos homens.E,no entanto,tambem nós,que procuramos ser diferentes dos outros e fazemos grandes rodeios para não palmilhar a estrada batida, acabamos por chegar onde chegam os mediocres,percorrendo essa estrada.
A vida é um arco que se dirige de A para B.Não é uma linha recta,excepto para os nado-mortos e para os cretinos de nascença.Para os homens um pouco inteligentes é uma ligeira curva;para os inteligentissimos é a curva máxima,para os simples é quase rectilinea;esses chegam a B por uma curva pouco acentuada.Os intelectuais,os excentricos,os extravagantes,que procuram novidades,sensações,atitudes não comuns,atingem mais demoradamente,mas atingem, fatalmente,eles também,aquele ponto para a qual se dirige direita ,sem desvios,a arraia-miúda.. Entre o simples e o excentrico existe apenas a diferença de amplitude do arco.O que ri do casamento,tendo sede de liberdade e de aventuras,acabará um dia invejando os que se casaram logo e tiveram filhos;quem preferiu uma vida fulgurante de imprevistos,com alternativas de miséria e de riquesa,de supérfluo e de fome,lamentará um belo dia,não ter enveredado pela politica.Creio que no intimo a grande atriz inveja a boa mulher que lava os seus fedelhos e lhes muda as fraldas;acredito que o grande politico,que cria a história,lamenta não ser professor numa aldeia do interior ou chefe de estação.
Em verdade, a mediania é perfeita.Perfeito é o que faz a barba um dia sim outro dia não,viaja em segunda classe,aspira ao purgatório,contenta-se com uma herança de dois mil euros,mora num 3º andar,foi sargento e usa botões de punho de prata dourada.

Louvada seja a mediania!

3 comentários:

  1. Brilhante Pott, como sempre.
    Chamar-te de Pott faz-me alguma confusão.Não deveria fazer.Afinal ,tudo que te diz respeito é normal,por mais inconcebivel que possa parecer.
    Tu alimentaste-te durante muitos anos de carne enlatada:tens necessidade de comer frutas, morder limões.
    Em vez de reunires em teu redor a tua familia ou criares uma,preferiste rodear-te de títeres,de simbolos , de fantasmas: para fugires aos convencionalismos, criaste um convencionalismo teu;para não falar alinguagem
    consumada e vazia de todos os outros,formaste uma linguagem artificial;para não aceitares uma relação criaste uma série de idolos,de tótemes,de feitiços,que se chamam o Insólito,o Extravagante,o Excepcional,o Irregular,
    o Absurdo.
    Já me senti influenciada por ti.Já falei a tua linguagem.Às vezes ainda falo.
    Gosto de ti Pott,mas admite que és um tipo "perigoso".

    Até à próxima Pott.

    "B"

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  2. Querido POTT, sim pressinto que POTT é nome votivo de quem como Índio, que perscruta o sol e as estrelas, fala com as águias os orixá e se envolve nos fumos da oxíopia...se tornou oculto sábio e presciente...
    O que diz da vida, revela o que dela observou e colheu ficando-se pelo limbo vivencial "mediano"? Parece-me mais uma resignação um desencanto...não porque esta guerra trival e sanguinária que é existência não frustre não revolte mas...Amigo há sempre
    as frestas de sol,os rios e os montes, as aves a música a incondicionalidade...aquele ou aquela coisinha humana...sobrando
    de serenidade que ainda nos habita e aguarda por um punhado de flores um abraço apertado...sem mais que um canto onde pousar a cabeça e em cada dia coligir o que está esparso em nós...sobra ainda tanto...sobra tanto!

    Abraço para POTT

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  3. OLÁ POTT
    Depois da longa dissertação sobre as curvas e contracurvas da vida, fiquei ainda mais confusa sobre quem o Pott é na realidade. Será que é isso mesmo que pretende? Lançar a dúvida sobre a sua personalidade? Fico-me pelo excêntrico! Mas, na verdade, hoje tive outra visão sobre si: vejo-o, mal a noite se instala, a sair do seu castelo, de veias dilatadas, à procura dos incautos, para depois regressar à tumba antes que o dia retorne, escorrendo o sangue da revolta, da traição, da raiva, da frustração por não encontrar ninguém igual a si. Não há, meu amigo! A única coisa que temos em comum – todos nós - é uma estrada para caminharmos. A atitude de quem faz caminho é que é diferente. Todos nós temos encruzilhadas, desertos patéticos, lagos de água estagnada onde se afogam muitos dos nossos sonhos… mas ninguém disse que era fácil viver! Porque não abrir as suas asas de condor, passar por cima de todos os lamaçais do mundo e fazer um ramo das palavras belas que sabe e são ou deverão ser um paradigma e um motivo de esperança nesta vida que vê sempre incolor? Alguém, um dia, o feriu. Disso tenho a certeza. Mas é preciso perdoar a todos aqueles que o incomodam. Não se pode fugir nem desistir, seriamos vítimas de nós próprios. Também não podemos apontar o dedo a quem não pensa como nós. Há que falar com serenidade e clareza e então, os néscios compreenderão que há códigos humanos enraizados dentro de nós e que, no confronto, não é necessário um banho de sangue, sob pena de nos tornarmos todos nuns pequenos vampiros procurando o vento sibilante das noites em vez da aragem fresca das madrugadas.
    Espero pelo condor!

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