..embora o meu público seja(pelos vistos)feminino,deixo aqui estas palavras para algum jovem incauto que por aqui passe...
Quando tiveres,entre aventuras passageiras e amores estáveis,algumas dezenas de mulheres,a mulher já não exerce a fascinação da novidade.Todos os tipos de mulheres passam pela nossa existência: mulheres inteligentes que são companheiras inquietantes;tolinhas repousantes e insuportáveis depois como páginas de arrazoados;cabecinhas desordenadas como o vento e caprichosas como guisos;inexplicáveis como truques de prestidigitação ou lógicas como professores de matemática;sentimentais até ao misticismo ou sensuais até ao vício;entusiasticas até à loucura ou passivas até à catalepsia;mulherzinhas que nos anestesiam com uma carícia ou nos exasperam com um olhar;doidinhas que se concedem a um simples pedido,que se prodigalizam a qualquer pessoa,como prospectos de propaganda,mas por nós se fazem desejar meses;"senhoras"austeras,notoriamente intangíveis,que se nos entregam logo;criaturas feias,que têm na epiderme cristais de rádio,e que ao serem tocadas têm arrepios;belezas dignas de fama europeia,mas cujo corpo admirável nada nos diz;mulheres que têm a grande habilidade de nos levar a praticar gestos insensatos,e contudo nos dão a ilusão de não nos serem pesadas; outras,quase inexsistentes,quase imateriais,que nos oferecem,sim e não,uma hora de amor,e entretanto nos oprimem mais que um processo no tribunal criminal;outras,que se revelam todas em poucos minutos;outras que sabem conservar o mistério por anos,e no momento do adeus nos revelam algo da sua vida,do seu espirito,dos seus sentidos,que nos era ainda ignoto.Cada uma dessas mulheres é diferente das outras,mas recolhemos ao menos um exemplar de cada categoria.Quando realizamos tão exaustiva experiência,quando a classificação for completa, quando o nosso "insectário de mulheres tem um coleóptero de cada espécie e um cartãozinho com um numero progressivo para cada coleóptero,crês ainda que te poderás casar?Ante o problema do matrimónio,responderás a ti mesmo:Não encontrei o ideal até agora:posso ter a ilusão de que o ideal seja precisamente a mulher com quem me caso?A esposa eventual será magra,subtil,loura,sentimental leitora de Rollinat,apaixonada de Beethoven,gulosa de drops acidulados como a filandesa que conhecemos num cruzeiro e nos abandonou porque num concerto espirramps durante a"Nona Simfonia".Ou será um pouco arredondada, caprichosa, ardente,mas sedentária,apaixonada e de pranto fácil,ávida de ostras e de carne mal passada, como a número 86.Ou então será como a ultima, uma loura de 28 anos,que com a voz e os louros cabelos tornava festiva e musical a nossa casa,como se a enchesse de sol e canários.Ou será taciturna como a 119,a veneziana pálida,que nos museus apalpava voluptuosamente os joelhos das estátuas,excitando-se com a carnalidade do mármore,e ao falar desenhava no ar formas com o dedo como se modelasse.Ou será como a 167,aristocrata de grande marca,que tem na familia pretendentes ao trono de Portugal,se enamorou de nós porque liamos ,no café, o jornal da "Causa Monarquica",e no amor era teatral e magestosa como se se concedesse à sombra da sua arvore genealógica.Ou ainda terá a voz gutural das espanholas,falará com a boca escancarada,como as argentinas,ou de dentes cerrados como as inglesas.Ou será como a 18, provinciana,que veio amar-nos por nos ter visto numa fotografia publicada numa revista....
..fala-vos quem errou muito na vida...