quinta-feira, 26 de março de 2009

..a uma amiga que vive ao fundo de um carreiro mágico..


...e a propósito de Estrelas..

....só no falso existe o belo: as desvairadas deformações,os desvios alucinados,os contrastes exasperadores são os únicos meios pelos quais o artista cosegue dar-me alguma emoção.
Já estamos fartos do verdadeiro,do humano ,do verosimel;desejaria que um artista chegasse 
a dar-me a ilusão de caminhar nas ruas das cidades,calcetadas de estrelas,tendo na cabeça um par de galochas,para chapinhar com elas nas poças de agua do infinito,enquanto a chuva e a claridade se projectassem contra mim debaixo para cima.

Filosofando "O Passarinho"



 

- Interessante!... Aquele passarinho

que pelo espaço imenso, incerto, adeja,

não tem nada

porque nada deseja,

e no entanto tem tudo:

- a terra verde é sua...

- o céu azul é seu...

- Interessante!... Aquele passarinho

tem muito mais do que eu!

O que eu contei à minha amiga que viaja sempre no "Ultimo comboio"...


Tenho no meu quarto,na parede ,em frente à cama,um desenho imaginário.Trata-se de um mapa,a Projecção de Mercator.A 
Projecção de Mercator é a mais descarada mentira geográfica perpetrada pelos mapas.Ao copia-la,de forma 
imaginária, regozijo-me em me tornar cúmplice das deformações;desenho em grande,as cidades consagradas pela moda ou 
pela actualidade,dando menor relevo às celebradas pela História;as tres cidades mais importantes dos Estados Unidos; 
Reno,Detroit ,Hollywood ,famosas pelos Divórcios,pela FORD e pelo Cinema,esmagam as consagradas pela descoberta de 
Colombo,pelo desembarque dos puritanos ingleses do«Mayflower» e pela proclamação da Independencia.No velho continente 
assinalo as montanhas com critérios estranhos à sua altitude.O Himalaia parece uma colina,em comparação com o 
Sinai(o monte da Sabedoria) e com Saint-Moritz(as alturas da Vaidade).Quanto a correntes de agua só traço duas, o Reno 
e o Jordão,o 
Ódio e o Amor.Assinalo como cidades importantes da Europa estas quatro:Amsterdão,onde Spinoza foi amajdiçoado pela 
Sinagoga por ter perdido a Fé de seus pais;Sain-Vannes,onde o beneditino Don Périgon inventou champanhe;Versalhes ou a 
falência da força;Genebra ou a falência da razão.Desenho a vermelho,em grossas curvas, o itenerário das Cruzadas, e em 
azul o percurso do Orient-Express;em vários pontos,a estrada de Godofredo de Bulhão cruza-se com a da Companhia dos 
Wagons-Lits.Nada há mais decorativo do que um mapa que contenha os rios fabulosos,as terras dos amantes,os poços de 
petróleo,as linhas aéreas,os itenerários dos conquistadores,as minas de esmeraldas.assinalo na minha carta geográfica 
dois célebres jardins:na Inglaterra,o Jardim de Woolsthorpe,e na Arménia o Paraiso Terrestre,indicando-os com duas 
maçãs:a maçã de Newton e a maçã de Eva:uma demonstra que o destino das coisas está regulado pelas leis matemáticas;a 
outra que o destino dos homens está regulado pelo capricho.

Paris é uma festa


Com certeza,existe no mundo uma força de coesão que mantem as coisas presas às pessoas e mantém as pessoas presas à vida.Aqui,em Montmartre,parece-me que o ritmo da minha vida se acelera,que a oxidação das minhas células é mais rápida,que aminha destruição se precipita.
Montmartre é um espantoso elemento desagregador.Não pelas suas mulheres,não pelo seu alcool,não pelos seus treponemas;por outras razões que não se vêem mas que são intuitivas.Montmartre é um«tobogan»violento para o Estige.

quarta-feira, 25 de março de 2009

O Jogo


O Jogo nada mais é que a vida condensada;a vida não é mais que um quarto de hora na roleta;os que têm sorte são os que vencem;e para vencer basta que o individuo da tua direita te distraia,que a senhora da tua esquerda te impeça de jogar no número que querias;basta que a tua cadeira esteja perto dos números baixos quando saem os números baixos,que surpreendas no ar um som de voz,um número sugerido por uma voz anónima,e que jogues nele.
O Jogo não é a alegria de vencer e sim uma sensação de viver intensamente.
É a loucura de confiar o próprio destino a certos números que são como o bagaço,os detritos da matemática.
Deixar o trabalho pelas extravagâncias do jogo é como abandonar a ciência para tentar o empirismo.
Há jogadores que registam com diligência burocrática todos os números saídos,porque as séries se repetem.Aqueles que acreditam nessas repetições da sorte,são como os que pretendem empregar com as amantes futuras o fruto da sua experiencia com as amante passadas.

domingo, 22 de março de 2009

O Mundo


Tudo é possivel nesta podridão esférica que gira com burocratica constância em torno do Sol.

POTT

As estrelas....!


Se as estrelas pudessem ser interrogadas perguntar-lhes-ia se os poetas e os astrónomos não as importunam demasiado.