Tenho no meu quarto,na parede ,em frente à cama,um desenho imaginário.Trata-se de um mapa,a Projecção de Mercator.A
Projecção de Mercator é a mais descarada mentira geográfica perpetrada pelos mapas.Ao copia-la,de forma
imaginária, regozijo-me em me tornar cúmplice das deformações;desenho em grande,as cidades consagradas pela moda ou
pela actualidade,dando menor relevo às celebradas pela História;as tres cidades mais importantes dos Estados Unidos;
Reno,Detroit ,Hollywood ,famosas pelos Divórcios,pela FORD e pelo Cinema,esmagam as consagradas pela descoberta de
Colombo,pelo desembarque dos puritanos ingleses do«Mayflower» e pela proclamação da Independencia.No velho continente
assinalo as montanhas com critérios estranhos à sua altitude.O Himalaia parece uma colina,em comparação com o
Sinai(o monte da Sabedoria) e com Saint-Moritz(as alturas da Vaidade).Quanto a correntes de agua só traço duas, o Reno
e o Jordão,o
Ódio e o Amor.Assinalo como cidades importantes da Europa estas quatro:Amsterdão,onde Spinoza foi amajdiçoado pela
Sinagoga por ter perdido a Fé de seus pais;Sain-Vannes,onde o beneditino Don Périgon inventou champanhe;Versalhes ou a
falência da força;Genebra ou a falência da razão.Desenho a vermelho,em grossas curvas, o itenerário das Cruzadas, e em
azul o percurso do Orient-Express;em vários pontos,a estrada de Godofredo de Bulhão cruza-se com a da Companhia dos
Wagons-Lits.Nada há mais decorativo do que um mapa que contenha os rios fabulosos,as terras dos amantes,os poços de
petróleo,as linhas aéreas,os itenerários dos conquistadores,as minas de esmeraldas.assinalo na minha carta geográfica
dois célebres jardins:na Inglaterra,o Jardim de Woolsthorpe,e na Arménia o Paraiso Terrestre,indicando-os com duas
maçãs:a maçã de Newton e a maçã de Eva:uma demonstra que o destino das coisas está regulado pelas leis matemáticas;a
outra que o destino dos homens está regulado pelo capricho.